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Bill Frisell – “Nashville”

Pop Rock

14 Maio 1997
poprock

Bill Frisell
Nashville
NONESUCH, DISTRI. WARNER MUSIC


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Por mais que tentemos detectar sinais de vida na música de Bill Frisell, não conseguimos. “Nashville” constituía, à partida, um pretexto excelente para o guitarrista mostrar que não é um animal de sangue frio. Debalde. Nesta aproximação à música country, gravada “in loco”, num dos seus locais sagrados, Nashville, nem a participação de Ron Block (dos excepcionais Union Station que acompanham Alison Krauss – atenção, que não morremos de amores pela country music) nem a inclusão de um tema de Neil Young, “One of these days”, conseguem tirar Frisell do seu laboratório de notas absolutamente limpas e exactas. A audição deste álbum servirá, porventura, para comprovar as palavras do crítico da revista “Jazz Times” quando se refere “à inabilidade inata de tocar uma nota supérflua” de Frisell, ou, segundo o “Minneapolis Star-Tribune”, a sua sonoridade “evocativa de uma ‘steel guitar’ solitária”, aqui, um pouco como nalguma música de Ry Cooder. Tudo aspectos formais, numa obra que conta ainda com os irritantes tiques vocais de Robin Holcomb e à qual continua a faltar a centelha de paixão. (6)



Bill Frisell, Hermit Driscoll, Joey Baron – “Live”

Pop Rock

1 de Novembro de 1995
Álbuns pop rock

Bill Frisell, Hermit Driscoll, Joey Baron
Live

GRAMAVISION, DISTRI. MVM


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Eis de regresso o velho Bill “bochechas” Frisell, de rosto irradiante de pureza. Mas não é bom guitarrista? É um óptimo guitarrista! Então e a música? Tecnicamente perfeita. Só? Pois é… Falta a este bom rapaz da “downtown” um coração, tripas, um esgar de mau humor. Ao vivo (já o vimos com Zorn, compenetrado nas suas matemáticas, enquanto o mestre vomitava no saxofone), neste caso, no teatro Lope de Vega, em Sevilha, nos Terceros Encuentros de Nueva Musica, pouco mudou no seu “approach” de técnico laboratorial que conhece todos os cantos da sua guitarra. Swing é palavra que não consta no vocabulário de Bill Frisell. Abstraccionista, falta-lhe a pulsão anarquista e convulsiva de um Elliott Sharp ou de um Christy Doran. Esteta, não tem a largueza de visão dos contemplativos da ECM como John Abercrombie ou Ralph Towner. Académico, embora encapotado, falta-lhe a polivalência de um Terje Rypdal ou de um Pat Metheny. “Live” poderia ser, ao menos, um espaço de comunicação e diálogo entre os três músicos, versão “power trio”, com o baixo de Driscoll e a bateria do pau para toda a obra que é Joey Baron, no contexto das “novas músicas”. Infelizmente, o estilo de Bill Frisell caracteriza-se pelo autismo. Os outros aguentam o barco, vão atrás e acrescentam os pormenores de esboços cuja articulação obedece, de forma absolutamente coerente, ao conceito “verbo de encher”. Frisell devia ter aprendido com Buster Keaton e passar a fazer música muda. (3)



Bill Frisell “Music For The Films Of Buster Keaton: Go West” + “Music For The Films Of Buster Keaton: The High Sign & One Week”

Pop Rock

8 de Fevereiro de 1995
álbuns poprock

Quinta do Bill

BILL FRISELL
Music for the Films of Buster Keaton: Go West (6)
Music for the Films of Buster Keaton: The High Sign & One Week

Elektra, distri. Warner Music


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Bill Frisell é um nome importante da nova música nova-iorquina e em particular da cena “downtown”. Certo. Bill Frisell tocou com John Zorn. É verdade. E com Marianne Faithfull. Sim, sim. E com Madonna! Ah!? Tem discos gravados na ECM, um pouco chatos, mas… De Charles Ives a Hendrix, já passou um pouco de tudo pela sua guitarra. Sim senhor, até já tocou ao vivo em Portugal. Depois disto quem é que me vai perdoar por não gostar dele? Não se trata de uma daquelas embirrações irracionais a que vulgarmente se chama “ódios de estimação”. Também é um bocadinho isso, mas não só. Confesso que não vou a à bola com o seu ar certinho, de menino-prodígio que se tornou professor de guitarra. Sou da opinião de que não deviam deixar uma pessoa com o seu aspecto “clean” andar pela “downtown” – coisa de génios lunáticos –, embora conceda que possa haver excepções. O problema, a verdadeira incompatibilidade, está em que já ouvi vários discos do Bill e até à data, por mais que me esforçasse, não consegui gostar (ou será melhor dizer, aderir?) de nenhum. Este não é excepção. Bill é um tecnicista, disso não tenho dúvidas. Assim como os dois músicos que o acompanham neste projecto, Kermit Driscoll, no baixo, e o afamado Joey Baron, na bateria. Estas peças, repartidas por dois CD, compostas por encomenda da Academia das Artes de St. Ann, em Nova Iorque, para ilustrar curtas-metragens protagonizadas pelo mito do burlesco e do cinema mudo Buster Keaton, são neste aspecto exemplares. Mas, o tal mas fatal, fica-se com a impressão de que a música não vai a lado nenhum. Que não é carne nem peixe. Não diria que é música a metro, porque Frisell se preocupa ao milímetro em sacar ao seu instrumento fraseados que umas vezes invocam a violência agoniada de Hendrix e outras a fragmentação tímbrica de Fred Frith, mas evidenciando a cada instante a preocupação em fazer um som limpo e, para os meus ouvidos, morno. Mas é música que nunca mais pára de passar. As peças são quase todas curtas e isso lembra de imediato John Zorn, mas Bill, por muito rápido que seja – e não é, o seu discurso atira antes para o tortuoso e para a ruminação –, não consegue ser tão conciso nem sintético como o saxofonista. Sobretudo a “country” e os “blues” surgem como motivos fugazes, bem como certas referências à cançoneta, à bossa-nova, ao som ECM e ao próprio Zorn. Mas Bill mói e remói até ficar tudo uma pasta sem sabor. A Bill Frisell faltará talvez a focagem, a força de uma música verdadeiramente original. Sobra cérebro, mas falta coração. Neste caso, será por não termos as imagens? Rezam as crónicas que na estreia, em Nova Iorque, em que os músicos actuaram ao vivo por baixo do ecrã durante a projecção, o público gozou que nem um perdido. Por mim, suspeito de que continuo a preferir um Buster Keaton mudo.