Kate St. John – Second Sight

03.10.1997
Kate St. John
Second Sight (6)
All Saints, distri. MVM

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Nos anos 80 uma inglesa romântica chamada Virginia Astley plantou um jardim, enfiou-se lá dentro e deitou fora a chave do portão. Mas as flores cresceram e os odores aumentaram de intensidade, atraindo para o seu interior as meninas boas que buscam segurança e um tempo perdido que a pop já esqueceu. Kate St. John, antiga vocalista dos Dream Academy, foi das que se deixaram enfeitiçar pela beleza do jardim. A solo, na estreia “Indescribable Night”, ou com Roger Eno, que a convidou para cantar à hora do chá em “The Familiar”, a música desta senhora nunca se afastou do seu local de contemplação, escondida entre os canteiros. Com Roger Eno no piano, vemos de um lado o mar e as brumas de praias desertas. De outro, um bosque de mistérios. De outro, ainda, os ecos da “chanson” de “vaudeville” (Edith Piaf assombra um tema com “J’attendrai”). De outro, por fim, a casa de espelhos de Alice. “Second Sight” desliza por vocalizações sem idade (bom, ou quase, Kate tem voz de menina frágil, hesitante nas notas, o que retira parte da força da sua música), em histórias de mansões abandonadas, murmúrios, violinos e valsas de amantes desterrados do túmulo. Tem a beleza triste das coisas antigas, um cheiro a panos velhos, a folhas mortas e a madeira envernizada. Pensando melhor, este é um jardim francês, (parte do disco foi gravado em Paris), rodeado de acordeões, cultivado com a elegância geométrica dos seus mestres jardineiros. O principal dos quais é o produtor Joseph Racaille, antigo companheiro de Hector Zazou nos ZNR. Ah, mas então Satie?…

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