Jorge Reyes – “Bajo El Sol Jaguar” + Jorge Reyes – “Niérika”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 02.12.1992


Jorge Reyes
Bajo El Sol Jaguar (9)
CD, Exilio, import. Ananana
Niérika (9)
CD, No Rekords, import. Ananana



Em Jorge Reyes, músico mexicano pouco conhecido na Europa, o passado do México pré-hispânico encontra-se com os sinais extremos da modernidade. É possível situara sua obra em territórios próximos dos delimitados por Jon Hassell, O Yuki Conjugate ou Lights In A Fat City – músicas do “quarto mundo”, como se costuma dizer, na qual a electrónica e os elementos étnicos se cruzam em infinitas sínteses. “Bajo El Sol Jaguar”, o álbum mais recente, e “Niérika” (reedição do original de 1989, acrescentado de dois temas de “Ek-Tunkul”), como “Musica Pré-Hispânica” ou “Crónica da Castas” (de parceria com o guitarrista espanhol Suso Saiz), recuperam o ambiente e os mistérios das civilizações maia e asteca, em incursões sombrias em cavernas, pirâmides e vulcões, onde as energias telúricas e celestes se unem e dançam através do eixo humano. É uma música lenta, ondulatória, ritual, no sentido em que convoca e desencadeia movimentos interiores e deslocações da consciência. Ritmos primevos brotam de fontes sonoras como cântaros, troncos de árvore, pedras, fósseis ou do próprio corpo que Jorge Reyes percute e amplifica. Sons de chuva e vento ajudam a delinear paisagens recortadas contra o manto negro da noite. Ocarinas e flautas pré-hispânicas, “didjeridoo”, sintetizadores e sequenciadores ao serviço das energias naturais tecem quadrículas de tempo, relações bizarras entre culturas, transmutações da memória. A luz, quando o dia nasce, cobre de ouro velho as ruínas de templos esquecidos. Nas manchas de um jaguar, oculta-se o último segredo, terrível revelação que assombra um conto de Jorge Luís Borges. Na obra de Jorge Reyes, o sonho (tema sempre recorrente nos seus álbuns) é caminho e porta, meio sinuoso e alucinatório de acesso ao centro de um mundo povoado de fantasmas. “Bajo el Sol Jaguar” e “Nierika” são neste aspecto equivalentes à obra literária de Carlos Castaneda e às suas viagens de peyote – “Viaje al sitio de los violines de flores”, como diz o título de uma canção. As flores do mal, de Baudelaire?

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