El Rumbero – “El Rumbero No Pavilhão Carlos Lopes, Em Lisboa – A Rumba Não Se Serve A Frio” (concerto)

Cultura >> Domingo, 29.11.1992


El Rumbero No Pavilhão Carlos Lopes, Em Lisboa
A Rumba Não Se Serve A Frio


Não façam mais concertos no Pavilhão Carlos Lopes. É frio e não tem condições acústicas. E às vezes, como aconteceu sexta-feira à noite na actuação de El Rumbero, muito grande para a escassez de público e a pequenez do talento. No final houve quem pedisse a devolução do dinheiro.



Estariam cerca de mil pessoas no Pavilhão Carlos Lopes dispostas a dançar a rumba e a soltar “olés”, entre palmas, calores e guitarradas. Nada disto aconteceu. Por culpa das condições do recinto, mas também dos músicos, que, rotulados com a auréola de “reyes”, acabaram por revelar-se uma enorme desilusão. Ou talvez fosse do cansaço. Logo no início, El Rumbero apressou-se a dizer que estava fatigado da viagem. E que, explicou, “todos os ciganos têm medo de viajar de avião”. Disse outras coisas mas não se conseguia perceber dado que a acústica do pavilhão transformava cada palavra numa pasta de reverberação que ecoava pelas paredes desoladas como um bombo descontrolado.
Em palco quatro guitarras, um baixo e percussão, mais os respectivos humanos a segurá-los. O “manager” do grupo, um italiano, fez as apresentações. Dois instrumentais mornos fizeram o que seria suposto ser o aquecimento para a entrada do herói da noite, El Rumbero, o rei da rumba, catalão há vários anos a viver em Camarga, França.
Este lá apareceu de voz rouca a dar desculpas, cantou as esperadas rumbas, muitos temas dos primos Gipsy Kings – sem esquecer o hino das feiras, “Bamboleo” – e a coisa nunca passou da mediocridade até ao final. “Vamos a bailar”, dizia a letra de uma canção. Ninguém se mexeu. Mais um esforço para mobilizar as hostes, com El Rumbero dando instruções de canto à assistência que, devido ao som empastelado, soaram ininteligíveis para o público. Percebia-se “oh oh” e “ay ay ay mi madre” seguido por uma série indecifrável de gemidos e interjeições.
Mas o momento mais caricato do espectáculo estava reservado para o final. El Rumbero e os rapazes, enfadados, terminaram abruptamente a actuação e abandonaram o palco, pouco mais de uma hora depois do seu início. Toda a gente pensou que era o intervalo e ficou a espera, muda e queda, da segunda parte. Entrou então o empresário italiano que desatou a berrar “rumbero, rumbero, rumbero!” perante o pasmo colectivo. Como por esta altura o pavilhão já se encontrava completamente enregelado claro que nenhuma alma foi sensível a este entusiasmo empresarial. Mesmo assim a banda regressou ao palco, simulando o empolgamento, para dois “encores” despropositados que ninguém pediu a não ser o patrão.
Algumas ciganitas adolescentes pediam à saída a devolução do dinheiro gasto no bilhete, descontentes com o pobre espectáculo a que tinham assistido. Falataram às rumbas de El Rumbero a “raça” e o nervo que caracterizam a música cigana. E, isso, nem sequer os seus irmãos de sangue perdoaram.

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