Sétima Legião – “O Fogo”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 04.11.1992


AS CINZAS

SÉTIMA LEGIÃO
O Fogo
LP / MC / CD EMI- Valentim de Carvalho



A expressão “nada se perde, tudo se transforma” só em parte se aplica aos Sétima Legião. No seu caso, seria mais correcto dizer que “nada se perde e nada se transforma”. De facto, apesar de um título que de imediato remate para a temática da mudança, esta só é perceptível em termos de pormenor e nunca de fundo. Desde o álbum de estreia, “A Um Deus Desconhecido”, os Sétima Legião criaram uma imagem, razoavelmente desfocada, que oscilava entre uma certa tradição portuguesa e influências externas localizáveis no eixo de Manchester, protagonizado, na transição dos anos 70 para os 80, pelos Joy Division e New Order. Ao contrário dos Heróis do Mar, que partiram de uma ideologia e de um conceito estético explícitos, e dos Madredeus, nacionalistas de outra forma, na assimilação da religiosidade que preside à alma portuguesa, os Sétima Legião têm sempre vivido em mais do que um mundo simultaneamente. Aí reside o seu apelo, mas também a sua perdição.
A subjectividade que os seus membros defendem está na base de toda uma estratégia que, em última análise, corre o perido de ser confundida com ambiguidade. Percebe-se em “O Fogo” esse desejo de nada dizer de forma definitiva. Compreende-se uma dialéctica de tensões que procura harmonizar um tom de festa (presente nas prestações ao vivo da banda) e um lado funéreo, sombrio, de luto. Dialéctica que a capa do disco ilustra de modo exemplar. Infelizmente, a música manter essa tensão, remetendo-se ao lado nocturno e triste, tão triste que nem a inspiração parece ter encontrado motivação para visitar os elementos da Sétima Legião. A fuga para a frente dá-se pelo lado étnico, aqui reforçado nos ambientalismos árabes de “A voz do deserto” ou pela presença da harpa céltica da convidada Leonor Leiria. Mas o que ressalata da totalidade de “O Fogo” é que este se encontra apagado, arrastando-se cada canção como se não existisse a vontade de dizer alguma coisa. A subjectividade tem destes perigos, de se diluir no vazio. Se, como os Sétima Legião dizem, “é o tempo do passado arder”, conve´m sempre, nestes casos, preparar primeiro o futuro. Sob pena de não restar nada sob as cinzas. (4)

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