Jaleo – “Jaleo No São Luiz, Em Lisboa – Flamenco Visual”

Cultura >> Domingo, 21.06.1992


Jaleo No São Luiz, Em Lisboa
Flamenco Visual


QUALQUER SEMELHANÇA entre noventa por cento da música que os Jaleo tocaram, sexta-feira à noite no Teatro São Luiz em Lisboa, e o flamenco é pura coincidência. Os Jaleo fizeram ao flamenco o mesmo que Rão Kyao ao fado ou Waldo de los Rios a Vivaldi: esvaziaram-no e depois disfarçaram com verniz. Para Diego Cortés e companhia o flamenco é menos uma necessidade vital e mais uma atracção visual. Bastava olhar para as duas dançarinas.
Diego é um “virtuose”, guitarrista de recursos técnicos quase ilimitados, que não fica atrás, por exemplo, de um Vicente Amigo. Provou-o, e de que maneira, em cada solo que executou. Extrovertido, explodiu no metal e na madeira, os dedos possuídos de electricidade, percutindo e chsipando na guitarra.
O problema está na música em si. Na estilização absoluta de um género que de estilizado nada tem. Flamenco-jazz rock de casino, embalado e pronto a exportar é o que os Jaleo têm para apresentar. Fora as meninas.
Vamos então à meninas, se não é abusiva tal expressão. Maria Rosa Jimenez e Sandra Lovaina Romero (que à última hora substituiu a titular Meritxell Cardellach impossibilitada de vir por estar grávida), loura e esbelta a primeira, morena e roliça a segunda, encheram o palco e o olho de uma assistência que esgotou o São Luiz, com as suas coreografias feitas de vestidos provocantes, meneios, sapateado e pernas. Os Jaleo são um todo coerente: eles mudam o flamenco; elas mudam de vestido.
À terceira apresentação e à medida que o ambiente ia aquecendo, mostraram finalmente a perna, arrancando fartos aplausos à assistência que deste modo mostrou conhecer os segredos do flamenco. À quarta, a loura, a Maria Rosa, mostrou um pouco mais, aparecendo com um vestido vermelho decotado em “trompe l’oeil” até à cintura. Não vale a pena explicar o que é um decote em “trompe l’oeil”. Entrou a morena e as duas simularam uma luta de ciúmes, quase corpo a corpo, com estalada e pontapé na cara mas no fim ficaram amigas. O flamenco é mesmo assim.
Depois foi a altura dos músicos solarem e mostrarem o que valem. Sobretudo o flautista, Domingo Patricio, mostrou que vale bastante. Os outros três, Enric Ula, na bateria e percussão, Jean Rectoret, no baixo, e alex Marone, no sintetizador, cumpriram. Mas o melhor solo veio ainda com a dança, de novo com Maria Rosa a brilhar, num sapateado de saia bem, bem levantada, para deixar ver o sapato. Olé! Bravo!
Em suma, o espectáculo dos Jaleo, como flamenco, foi fraquito. Como entretenimento, sobretudo para os olhos, agradou. À saída as opiniões dividiam-se: “É bom. Ouvimos música” e “espanholas nunca mais!”

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