Fantômas – “Fantômas” + Maldoror – “She”

Y 8|JUNHO|2001
escolhas|discos


FANTÔMAS
Fantômas
7|10

MALDOROR
She
6|10
Ipecac, distri. Sabotage

No noise reduction



Fantomas, o anti-herói de uma série policial de cordel anterior à Primeira Grande Guerra, serviu de inspiração a Mike Patton para a concretização de mais um dos seus projetos, a juntar aos Faith No More, Mr. Bungle, Peeping Tom e Tomahawk, entre outros. Fantomas era o inimigo da burguesia, o criminoso anónimo que assombrava a cidade de Paris, envolto numa aura de mistério e de medo. Patton não usa máscara nem pistola, nem consta que assalte os incautos cidadãos da Califórnia, mas isso não o impede de ter a fama de ser o inimigo número um do mainstream musical. Juntamente com um dos seus companheiros nos Mr. Bungle, Trevor Dunn, Buzz Osborne (The Melvins) e Dave Lombardo (Grip Inc., ex-Slayer), Patton alinhou uma sequência de 30 títulos que contém o mesmo tipo de violência enraivecida que já veiculara nos Naked City. Hardcore, death metal, desenhos animados manga em ebulição, anfetamina vocal e ocasionais momentos de distração para se ouvir um órgão Hammond em BSO de “suspense”, formam um magma incendiário no qual o vocalista dos Mr. Bungle introduz a sua habitual sessão de terapia pelo grito. “Fantômas” é literalmente uma guerra, atravessada por disparos, explosões, gemidos, vómitos e rajadas de noise, numa cacofonia de horror. Longe, muito longe, dos delírios surrealizantes de “California”, dos Mr. Bungle. Maldoror é outro dos projetos de Mike Patton, provavelmente o mais radical. Desta feita em duo com o japonês, mestre do noise e da tortura sónica, Masami Akita, mais conhecido por Merzbow. A fonte de inspiração é, neste caso, o livro “Os Cantos de Maldoror”, obra percursora do surrealismo, escrita no séc. XIX por Isidore Ducasse, sob o pseudónimo literário Conde de Lautréamont. O rosa “shocking” da capa, as imagens sexuais explícitas (que incluem um “insert” de uma vagina) e duas ilustrações do cartoonista Milo Manara não iludem o conteúdo altamente agressivo de “She”, obra de uma violência extrema, nos limites do suportável, cuja origem remonta a shows de improvisação da dupla realizados no ano passado na Austrália e posteriormente organizados em estúdio, em Tóquio.
Se “Cantos de Maldoror” são uma injeção de veneno inoculada nas veias do Inconsciente e uma espada pendente sobre a sanidade da mente, esta sua correspondência sonora estará mais próxima da loucura e do sadismo do Marquês de Sade do que da escrita subterrânea do Conde de Lautréamont. Experimentem ouvir o tema “Snuff” (inspirado nos “snuff movies”, filmes porno que envolvem o assassínio real dos atores) com o volume alto, para sentir a dor abominável. Socorro!



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