Frank Zappa – “Have I Offended someone?”

Pop Rock

12 Março 1997
reedições

Cantar não ofende

FRANK ZAPPA
Have I Offended someone? (8)
Rykodisc, distri. MVM


fz

Mesmo depois de morto, Frank Zappa continua a fazer ondas. Depois da fantástica colecção de excentricidades contidas no triplo CD “Läther”, a Rykodisc, editora que actualmente detém todos os direitos de edição, representação e distribuição da obra do músico, está prestes a lançar no mercado “Have I Offended someone?”, desta feita uma colectânea “politicamente incorrecta” de 15 canções favoritas do autor, seleccionadas pelo próprio em 1993, pouco tempo antes da sua morte. Entre o alinhamento incluem-se “Bobby Brown goes down”, “Catholic girls”, “Dinah-Moe humm” e “Valley girl” – o “single” que obteve mais sucesso nas listas de vendas, subindo, em 1982, ao 32º lugar do “top” da “Billboard” –, além de duas versões ao vivo, inéditas, de “Tinsel town rebellion” e “Dumb all over” e montagens e misturas diferentes das originais.
É o lado mais corrosivo de Frank Zappa, exposto num humor sem regras, que vergastou praticamente todos os temas tabu da sociedade norte-americana. Quem foram os ofendidos? As mulheres, os homens, os judeus, os católicos, os músicos, os executivos da indústria musical, o poder religioso e os franceses, na listagem elaborada, com não menos humor, pelo autor da excelente folha informativa que acompanha esta edição.
Opinião diferente tinha Frank Zappa, até porque, como Groucho Marx, também ele nunca poderia ser sócio de um clube que o aceitasse como sócio: “As pessoas que se ofendem mais com as minhas letras parecem ser os críticos de rock. O público, em geral, gosta delas.” Zappa teve, aliás, outra observação bastante sagaz sobre o jornalismo rock: “Pessoas que não sabem escrever e que fazem entrevistas a pessoas que não sabem pensar, com o objectivo de fazer artigos para pessoas que não sabem ler.”
Um dos seus temas mais bem sucedidos, o já citado “Valley girl”, em que é possível escutar a voz da sua filha Moon Unit, mereceu-lhe o seguinte comentário: “A pior coisa sobre este disco é o facto de ninguém o ter ouvido realmente… Tudo o que se disse sobre esta canção nunca tocou no ponto principal, que é a maior parte das pessoas serem cabeças de vento.” As pessoas, claro, riram-se e o sucesso da canção desencadeou na altura um fenómeno de “marketing” que incluiu a venda de “t-shirts”, marmitas de refeição, cosméticos e até um convite a Zappa para aparecer numa série de televisão e num filme, que acabou por ser feito sem a sua participação.
Na Noruega, onde muita gente não percebe peva de inglês, “Bobby Brown goes down” foi outro dos raros sucessos de vendas de Zappa. A canção fala de uma relação sado-masoquista entre um jovem e a sua “dominatrix”. Nos Estados Unidos, a transmissão radiofónica foi proibida, mas na Noruega e também na Alemanha e Áustria, como ninguém se deu ao trabalho de traduzir a letra, a canção chegou aos “tops”. Ou talvez te há chegado porque alguém traduziu a letra…
Mas a melhor declaração, proferida por Zappa em pleno tribunal, durante a campanha anticensura que empreendeu, nos anos 80, contra a organização puritana norte-americana PMRC, que advogava a classificação etária para os discos de rock, é um mimo de candura misturada com cinismo: “É minha convicção pessoal que nenhuma letra de canção pode ferir quem quer que seja. Não existe nenhum som que possa ser emitido pela boca nem palavra que possa sair da boca com poder suficiente para mandar uma pessoa para o inferno.” Sim que mal pode fazer escutar uma voz de “falsetto”, amaneirada até aos limites da bichice, cantar “I’m so gay, and I like to be that way” sobre um ritmo “disco” tirado do clássico de Giorgio Moroder e Donna Summer “I feel love”? Frank Zappa, na sua última estalada.



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