Anabela Duarte – Delito

02.07.1999
Portugueses
Anabela Duarte
Delito (8)
Ed. e distri. Ananana

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Como uma serpente, Anabela Duarte tem evoluído na música portuguesa com a imprevisibilidade de quem busca a tentação derradeira, a forma depurada do pecado ou a inocência perdida. Do caleidoscópio dos Mler Ife Dada, para ofado orientado para o Sul e para a electricidade, dos “lieder” de Verdi e Schubert para a poesia de Hélder Moura Pereira e Paulo Costa Domingos, Anabela Duarte exemplifica a personalidade não catalogável que cultiva o gosto pelo risco. “Delito”, gravado ao vivo no Instituto Franco-Português em Abril de 1991, não representará propriamente as tendências mais recentes da cantora. Nove anos são muito tempo e, no caso de Anabela Duarte, ainda mais. Com assinaturas várias (Berio, Nuno Rebelo, Kurt Weill/Brecht) a assinalar alguns dos seus 14 yrmas, “Delito” une os estilhaços de um espelho. O fado futurista de “Planeta Phado” e o fado em sangue de “Alfama” harmonizam-se com a canção lírica, segundo Luicano Berio, de “loosin Yelav”. A “new wave” sintética dos Tuxedomoon, de “Subtimente” e “Murmúrios”, e dos Unknownmix (em “Asiaouasi”) dissolve-se na chuva ácida e nos gritos de “Visão Lynch”. Os Mler Ife Dada revisitados em “Ela-ela” partem-se em mil bocados numa personificação de Lili Marlene. “Avant Fado” ou “design sonoro de ritual divinatório com cyborgs africanos em busca do Graal” (em “Mangissa”, minimissa electrogótica), “Delito” não propõe qualquer sentimento único nem qualquer coerância fora dos sentidos da voz. Talvez a resposta, caso haja interesse em dar alguma, se encontre na nota aposta a “Planeta Phado”: Sentimentalizar a máquina ou maquinizar o senimento é uma tarefa árdua, mas não impossível. Simbiose é o futuro. Ciberlizem-se. “Simbiose dos contrários da alma”.

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