Vários – “Em Tempo Real”

Pop Rock

30 OUTUBRO 1991

Vários
Em Tempo Real
CD, El Tatu, distri. Polygram

PLOPcd

As bandas que partilham entre si o tempo deste CD de apresentação da nova editora El Tatu estão-se nas tintas para a música portuguesa. Ainda bem. É verdade que os Plopoplot Pot, A Máquina do Almoço Dá Pancadas (sobretudo estas duas) e os No Noise Reduction são sensíveis a influências externas. Mas, em qualquer dos casos, trata-se de uma assimilação de linguagens, não de uma cópia. Sem excepções, nota-se em todos os intervenientes (na maioria excelentes executantes) o prazer e a alegria de fazer música, sem preconceitos e livre das imposições mesquinhas que são a regra no pântano do nosso meio musical.
Os Plopoplot Pot e A Máquina bem poderiam figurar no catálogo Recommended. O grupo de Nuno Rebelo transporta as sonoridades dos Lounge Lizards e da “down town” nova-iorquina para um universo bizarro de manipulações electrónicas sobre o qual se desenrolam as deambulações modais dos saxofones de Rodrigo Amado e Paulo Curado, suportados pelo baixo de Rebelo e a rítmica sincopada de Bruno Pedroso. Preciosa, a intervenção, na guitarra eléctrica, de Luís Areias, em “Ataque nocturno c/ radar”.
A Máquina (de João Pires de Campos, mais conhecido por Flak, nos Rádio Macau…) integra a na sua música a estética “free pop” dos Henry Cow (evidente em “7:5:3” e “Paisagens de Madeira”) e o minimalismo tonal dos Soft Machine de “Seven” (“Barcos na água”). O resultado é francamente sedutor.
Passando ao lado das improvisações em guitarra/baixo/bateria do trio Luís Desirat, Rafael Toral e João Oliveira e Silva, meros exercícios de estilo sobre as potencialidades dos respectivos instrumentos, cabe aos No Noise Reduction (Paulo Feliciano e Rafael Toral) fechar em beleza um disco que abre portas à nova música feita em Portugal. Mestres operadores do ruído (na mesma área em que se movem, por exemplo, David Linton, Steve Fisk ou Chris Burke), os NNR recorrem aos “samplers”, às técnicas de “scratch”, à manipulação de fitas magnéticas ou de leitores de CD “preparados” e às programações computorizadas para a criação de miniaturas cibernéticas que juntam o humor, Jimi Hendrix, os jogos electrónicos e o ruído “puro” com que encerram a sua prestação. “Em tempo real” acaba de vez com a execrável ladainha do “para portugueses não está mal”. Excelente disco. Em Portugal ou em qualquer parte do mundo. (8)



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