The Nice – The Nice (conj.)

24.03.2000
Reedições
“Nice, man!”

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“The Nice”, de 1969, é o terceiro álbum dos The Nice, aqui um trio formado por Keith Emerson, nas teclas, Lee Jackson, no baixo, e Brian Davison, na bateria, depois da estreia “The Thoughts of Emerlist Davjack” e “Ars Long Vita Brevis”. Não é o melhor álbum desta banda, cujo elemento principal, Keith Emerson, em breve encetaria uma carreira de “superstar” do rock progressivo nos Emerson, Lake and Palmer, em parte devido às pressões da editora, a Immediate, que então ameaçava falir, em parte devido à própria escolha do reportório, que, na edição original, se repartia por quatro temas de estúdio e um segundo lado, gravado ao vivo, com as versões de “Rondo”, um original da banda, agora reintitulado “Rondo ‘69’” e “She belongs to me”, de Bob Dylan. Dois exercícios de virtuosismo de Emerson, o primeiro em torno da música clássica (faceta que explodiria em pleno e com bastante melhores resultados quer no álbum posterior dos Nice, “Five Bridges Suite”, quer, já nos ELP, na recriação ao vivo da música de Mussorgsky em “Pictures at na Exhibition”) sofre de uma deficiente captação sonora (apesar da presente reedição ser remasterizada), o segundo é mais uma demonstração das qualidades de Emerson enquanto rei do chamado “flashy techno-rock”. Melhores são as quatro canções do “primeiro lado”, apesar de duas delas serem, uma vez mais, versões, “Azrael revisited” (do lado B do single “Azrael”) e “Hang on to a dream” de Tim Hardin, completados por “Diary of na empty day” e “For example”, qualquer delas ilustrativas do lado mais pop dos The Nice. (Essential, import. Lojas Valentim de Carvalho, 6/10).

Exemplo da melhor pop dos anos 60 é “S. F. Sorrow”, dos Pretty Things, que ainda há bem pouco recenseámos neste suplemento. Agora chega a vez da colectânea “Latest Writes, The Best of… Greatest Hits”. Quem gostou de “S. F. Sorrow” abstenha-se. O que se encontra aqui é o lado mais duro e rock ‘n’ roll desta banda que se enfronhou no álcool, nas drogas e nas histórias sórdidas, ganhando a imagem de “enfants terribles” do rock um pouco na linha dos Rolling Stones, com os quais chegaram a ser comparados. A presente colectânea documenta os diversos estilos musicais por que passaram os Pretty Things ao longo dos anos 60 e 70, como os rhythm ‘n’ blues, mod, pop, progressivo, rock FM, garage rock e psicadelismo. (Snapper Music, distri. Música Alternativa, 7/10).

No geral pouco interessantes, mas, apesar de tudo, detentores de uma vasta discografia, os Man eram uma banda galesa das muitas que nos anos 70, na Grã-Bretanha, tentaram enquadrar-se no corpo abrangente da música progressiva. Sem grandes rasgos enquanto compositores, procuraram, também à semelhança de muitas outras bandas da altura, compensar tal facto com o virtuosismo da execução, sobretudo da parte dos dois guitarristas, Michael Jones e Roger (ou Deke) leonard. Mas em “Do You Like It Here Now, Are You Settling In?”, de 1971, algo parecido com a inspiração desceu, como que por milagre, sobre o grupo, em composições como “Good clean fun” (na linha dos Gentle Giant, de “The Power and the Glory”), a balada “We’re only children”, “Many are called but few get up”, com o seu lado “genesiano”, “Manillo”, evocativo de imagens exóticas, como as induzidas pelo excelente “Listen Now” de Phil Manzanera/801, e o show de “guitarras prog” de “Love your life”. A consultar pelos coleccionadores/pesquisadores dos anos 70. (Point, import. Virgin, 7/10).

Também militantes na segunda divisão do progressivo, a Mick Abrahams Band distinguiu-se por ter como líder um dissidente dos Jethro Tull, o guitarrista Mick Abrahams, que, por sinal, também passou pelos bastante mais interessantes Blodwin Pig. “At Last” é o típico álbum de transição do rhythm ‘n’ blues para o progressivo que marcou muitas das bandas desta época, incluindo os próprios Jethro Tull. A base é rock, a respiração “bluesy”, os arranjos procura ser – “prog oblige” – complexos tanto quanto possível. Mas a banda tinha ideias, não se limitando a roçar por tocar, abordando a balada funk e a country de forma não convencional e, sobretudo, fazendo valer as capacidades do saxofonista Jack Lancaster, que, em todas as suas intervenções, enriquece a música com as sonoridades quentes e swingantes do jazz-rock de uns If e Colosseum. Um álbum acima de tudo sólido que sabe tirar partido dos músicos e que numa faixa – a mais longa – como “Maybe Because”, com as suas frequentes mudanças de ritmo, incluindo incursões no melhor jazz inglês da época, fará as delícias do fã mais compulsivo do progressivo. (Edsel, import. Lojas Valentim de Carvalho, 7/10).

Oriundos de Boston, no Massachusetts, os The Youngbloods, comandados por Jesse Colin Young (que faria uma bem sucedida carreira a solo na área do country rock), começaram por ser um banda um pouco híbrida que recorria à country, ao blues, à soul e ao gospel para a construção de canções pop. Mas isso foi antes de se mudarem para São Francisco e de se tornarem num dos emblemas do acid rock da West Coast, gravando álbuns com títulos tão sugestivos das fontes de inspiração a que recorriam como “Elephant Mountain” ( a mesma montanha escalada por Felix Pappalardi, outro dos músicos do grupo, que também fez parte dos Mountain, representativos da faceta mais desbundante do acid rock). “Euphoria, 1965-1969” reúne as duas fases do grupo, a híbrida e a psicadélica, dos Youngbloods, parentes musicais dos Quicksilver Messenger Service (“Quicksilver” é, aliás, um dos temas do grupo). “Darkness, darkness”, onde é utilizada uma sanfona, soa como uma versão lisérgica dos Fairport Convention, no que será um dos momentos mais altos (e “altos”…) desta colectânea. (Raven, import. Virgin, 7/10).

Quanto aos Led Zeppelin, um dos maiores pesos-pesados de sempre do rock, pouco mais haverá a acrescentar sobre esta banda que elevou o heavy rock à condição de arte, além de que continuam a ser redescobertos e citados como influência pelas bandas de rock mais novas. “Latter Days – The Best of Le Zeppelin Volume Two” recupera clássicos como “The song remains the same”, “No Quarter”, “Houses of the holy” e “Kashmir”, destinando-se prioritariamente aos coleccionadores completistas do grupo mas também aos desconhecedores curiosos em conhecer a maneira como soava o rock dos anos 70, com os níveis de volume, talento, virtuosismo e adrenalina no máximo. Perceberão, entre outras coisas, por que razão os Led Zeppelin arrasaram a concorrência. Mas são só dez temas (incluindo uma faixa CD-ROM) como poderiam ser outros quaisquer. Ide lá ouvir os álbuns originais, vá! (Atlantic, distri. Warner Music, 7/10).

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