The Dead Texan – Uma Estrela Caiu Do Texas – Entrevista –

14.01.2005
The Dead Texan – Uma Estrela Caiu Do Texas

The Dead Texan é um projecto de Adam Wiltzie, elemento dos Stars of the Lid, grupo ao qual se deve a música mais ambiental que a primeira geração do pós-rock ofereceu. Anunciado como um som “mais agressivo”, o álbum “The Dead Texan” sedimenta as propostas dos Stars of the Lid, acrescentando-lhes vozes e quase, quase, a estrutura de canções. Um segundo disco apresenta em DVD as imagens vídeo criadas por Christina Vantzos, que também estará presente nas duas actuações em Portugal, hoje em Lisboa e amanhã no Porto.

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FM – O título e a capa – quase um “cartoon” – deste trabalho parecem não se adequar ao teor da música. Como foram concebidas?

Adam Wiltzie – Sem querer fazer “statement”, suponho que têm um significado especial para mim e para Christina. A capa surgiu como consequência do que tenho observado na arte gráfica de outros álbuns do género. O termo “expressionismo abstracto” continua a ser a referência principal. Mas o facto de lidar com estruturas musicais ambientais, obriga-me a fazer arte gráfica ambiental também? Talvez esteja a divagar, mas olhando para o catálogo antigo da Kranky, optei por algo mais simbólico, no sentido clássico, que é simplesmente uma representação minha e de Christina. Tenho pensado em dois artistas famosos, Peter Paul Reubens (o pintor barroco) e Pablo Picasso (o clássico expressionista abstracto). Picasso, aparentemente, criou 40 mil obras durante a sua vida, enquanto Reubens se quedou pelas 400. Quando ouço as pessoas referirem-se a Picasso como génio, não posso concordar, as pessoas usam este termo levianamente. E se ele não o fosse de fato? Picasso lembra-me Lou Reed, um idiota que apenas estava no lugar certo, na altura certa (Warhol/Factory/Nova Iorque…). Reubens era mais como Mark Hollis. São anos e anos de vida a marcar acda pintura. Quando se olha para uma delas consegue-se perceber o sofrimento mental, a angústia, é algo maciço.
Quanto ao título significa apenas que vivi antes no Texas, um sítio morto…

FM – Houve quem achasse que esta música era “demasiado agressiva” para um disco dos Stars of the Lid.

Adam Wiltzie – Quando trabalhei como engenheiro de som dos Flaming Lips, o Wayne Coyne costumava dizer-me que a minha música era “chata”, que nada acontecia. Sugeriu-me que fizesse algo mais agressivo. O álbum é um pouco uma piada privada em resposta ao Wayne.

FM – É uma música que flutua entre a ambiental pura de Eno e a ambiental industrial, em que os sons nem sempre são apelativos. De que forma tenta afectar a percepção musical dos ouvintes?

Adam Wiltzie – Não tento. Apenas faço a música que gosto de escutar. Será que deveria divagar poeticamente sobre a forma como a minha música afecta o mundo? Creio que os vossos leitores se preocupam mais com o jardineiro do [treinador do Chelsea] José Mourinho do que comigo! De facto, sou levado a pensar que a minha música é incrivelmente imperfeita. Tenho um problema com músicos com grandes egos, que pensam que a sua música é perfeita. Como é que se pode evoluir se se tem uma atitude de reverência para com o que se fez no passado?

FM – Há uma vertente de música de câmara que faz lembrar Gavin Bryars…

Adam Wiltzie – É uma grande influência. Qualquer comparação com ele, positiva ou negativa, é um elogio.

FM – “Avec Laudenum” dos Stars of the Lid foi agora reeditado pela Kranky. A versão anterior, na Sub Rosa, não estava capaz?

Adam Wiltzie – Não, apenas estava descontente com a editora. A Sub Rosa fez um trabalho horrível e devem-me uma quantidade de dinheiro. É inegável que editaram uma série de bons discos mas as suas práticas financeiras deixam muito a desejar. Trabalhar com a Kranky é um prazer. São incrivelmente organizados e recebo pagamentos duas vezes por ano.

FM – Trabalhou em estreita colaboração nos vídeos com Christina Vantzos?

Adam Wiltzie – Nalguns casos a música já estava escrita, noutros aconteceu o contrário. Embora Christina tenha feito a maior parte da montagem, fui que fiz, por exemplo, a animação das mãos a tocarem piano, em “Aegina airlines”. Funcionou melhor assim do que se fossem dois músicos ou dois artistas de vídeo, cada um tem um bom conhecimento da especialidade do outro. Foi fácil, demorámos apenas nove meses a criar todas as imagens.

The Dead Texan + Phoebius
Lisboa | Galeria Zé dos Bois, R. Da Barroca, 59. Hoje, às 23h. Tel. 213430205. Bilhetes a €7,5.
Porto | Teatro Passos Manuel, Sáb., às 24h. Bilhetes a €7,5.

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