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Fernando Magalhães no “Fórum Sons” – Intervenção #162 – “Tu não te desgraces!”

#162 – “Tu não te desgraces!”
TUE JAN 16 17:24:04 2001

Códigos: OP (obras-primas, comprar de caras); E (Essencial); AT (acquired taste, músicas muito específicas, para gostos particulares); TTC (tu tem cuidado!)
C/notas atualizadas que podem não corresponder exatamente às que leste no jornal, porque são um bocado de memória e ditadas pela inspiração do momento.

AFTER DINNER- “After Dinner” (8/10)
AFTER DINNER- “Paradise of Replica” (9/10) E
ANI DI FRANCO- “Little Plastic Castle” (8/10) AT
ANI DI FRANCO- “To the Teeth” (8/10) AT
ANIMALS- “Winds of Change” (8/10) AT
AROVANE- “Atol Scrap” (7/10)
BAGAD KEMPER- “Hep Diskrog” (9/10) E
BEAU HUNKS- “Celebration…” (9/10) AT, E
BERNARD PARMEGIANI- “Pop’Ecletic” (9/10) E
BIOSPHERE/DEATHPROD- “Nordheim Transformed” (8/10)
BONZO DOG DOO DAH BAND- “Gorilla” (8/10) AT
CARLA BLEY- “Tropic Appetites” (9/10) OP
CARNIVAL BAND- “Hoi Polloi” (8/10)
CHICAGO UNDERGROUND DUO- “Synesthesia” (8/10) E
CHRIS BURKE- “Idioglossia” (8/10)
CLUSTER- “Curiosum” (8/10)
CREAM- “Disraeli Gears” (67) TTC
CREAM- “Fresh Cream” (66) TTC
CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL- “Creedence Clearwater Revival” (8/10)- TTC / AT
CURVED AIR- “Phantasmagoria” (10/10) – OP mas ouve primeiro está à venda na Hippodrome do Saldanha por 1990$00
DAVE’S TRUE STORY- “Sex Without Bodies” (8/10)
DEVO- “Pioneers Who Got Scalped” (8/10) – Col.
DYLAN GROUP- “Ui-Klang search” (7/10)
EARDRUM- “Last Light” (8/10)
EDUARDO PANIAGUA- “Cantigas de Castilla la Mancha” (8/10)
EINSTURZENDE NEUBAUTEN- “Silence is Sexy” (8/10) E
ESTELLE MONTENEGRO- “Lakeside” (7/10) TTC
F.X.RANDOMIZ- “Goflex”- (8/10)
GABRIEL E MARIE YACOUB- “Pierre de Grenoble”- (9/10) E
GAS- “Pop”- (7/10) TTC
GENTLE GIANT- “Edge of Twilight” (8/10) E
GIANT SAND- “Chore of Enchantment”- (8/10)
GILLE LETTMANN- “Gilles Zeitschiff”- (8/10) AT, TTC
GONG- “Zero to Infinity”- (8/10)
GROUNDHOGS- “Hogwash”- (8/10) AT
GROUNDHOGS- “Split”- (8/10) AT
GROUNDHOGS- “Thank Christ for the Bomb”- (8/10) AT
HARDSCORE- “Surf, Wind & Desire”- (8/10)
HENRY COW- “The Henry Cow Leg end”- (10/10) OP
HENRY COW- “Unrest” (8/10)
HOAHIO- “Ohayo! Hoahio!”- (8/10)
HOVERCRAFT- “Experiment Below”- (8/10) AT
JEANS TEAM- “Ding Dong”- (7/10)
JOHN MARTYN- “Solid Air” (9/10) E, Saiu uma magnífica versão remasterizada na VC do Chiado – som fabuloso
JON HASSELL- “Fascinoma” – (8/10)
JPP- “String Tease” (8/10) E
KATHRYN TICKELL- “The Northumberland Collection” – OP
KINKS- “Arthur or the Decline and Fall of the British Empire” (8/10)
KINKS- “Face to Face” (8/10) E
KINKS- “Something Else” (10/10) OP
KINKS- “The Kinks are the Village Green Preservation Society” (8/10) E
KINKS- “The Kinks, part 1: Lola versus Powerman and the Moneyground” (8/10) E
KISS MY JAZZ- “In the Lost Souls Convention”- (8/10)
KÖHN- “(Köhn)2”- (8/10) TTC – brain damage…
L. VOAG- “The Way Out”- (8/10) – Ananana
LA! NEU?- “Rembrandt” (8/10)
LA! NEU?- “Year of the Tiger”- (8/10)
LABRADFORD- “E Luxo So” (8/10) E
LABRADFORD- “Mi Media Naranja”- (8/10)
LADYTRON- “Ladytron” (7/10) AT
LISA GERMANO- “Slide”- (9/10) E
MAGMA- “Magma” (19/10) OP
MALICORNE- “L’Extraordinaire Tour de France d’Adélard Rousseau” (9/10) E
MALICORNE- “Le Bestiaire”- (9/10) – E
MARIA JOÃO & MÁRIO LAGINHA- “Lobos, Raposas e Coiotes”- (8/10)
MIKRON 64- “Sys 49152”- (7/10)
MILLADOIRO- “Auga de Maio”- (8/10)
MILLENNIUM- “Begin”- (9/10) E
MONO- “Formica Blues”- (8/10)
MONOCHROME SET- “Eligible Bachelore” (9/10) E
MONOCHROME SET- “Love Zombies” (9/10) E
MONOCHROME SET- “Strange Boutique” (8/10)
MOODY BLUES- “In search of the Lost Chord”- (9/10) E
MOONDOG- “H’art Songs”- (9/10) AT
MOONDOG- “In Europe”- (9/10) AT
MOONDOG- “Sax Pax for a Sax”- (8/10) AT
OSKAR SALA- “Elektronische Impressionen”- (8/10)
PALINCKX- “It’s a Frontal Dog”- (8/10) TTC rockrockrock
PAOLO CONTE- “Tournée 2”- (9/10) E
PASCAL COMELADE- “September Song”- (8/10)
PAUL McCARTNEY- “Run Devil Run”- (8/10) TTC, AT
PAUL SCHÜTZE- “Apart” (8/10)
PEETER VÄHI- “Supreme Silence”- (8/10) Aumzennnnnnnn… AT
PETER HAMMILL- “A Black Box”- (9/10) OP
PETER HAMMILL- “Chameleon in the Shadow of the Night”- (10/10) OP
PETER HAMMILL- “Enter K”- (8/10)
PETER HAMMILL- “In Camera”- (10/10) 3xOP
PETER HAMMILL- “None of the Above”- (9/10) E
PETER HAMMILL- “Over”- (9/10) E
PETER HAMMILL- “Ph 7”- (8/10) E
PETER HAMMILL- “The Future Now”- (9/10) OP
PETER HAMMILL- “The Silent Corner and the Empty…” (10/10) OP
PIERRE BASTIEN- “Musiques Paralloïdres”- (7/10)
PINK FLOYD- “Meddle” (8/10)
PINK FLOYD- “Wish You Were Here” (7/10)
PLUXUS- “Faz 2”- (7/10)
POLE- “Pole 2”- (7/10)
POTHOLE- “Dirty Picnic”- (7/10) AT jazzjazzjazz electro
PRESENT- “Nº6” (8/10) os mais antigos são melhores
PRETTY THINGS- “S.F. Sorrow”- (8/10) AT
PYROLATOR- “Wonderland” (70’s) (8/10) se encontrares em CD diz-me!
RED KRAYOLA- “Fingerpainting”- (8/10)
RICHARD PINHAS- “Iceland”- (8/10)
RICHARD THOMPSON- “I Want to See the Bright Lights Tonight” 10/10 OP
ROEDELIUS- “Jardin au Fou”- (8/10)
ROXY MUSIC- “Roxy Music”- (10/10) OP
ROXY MUSIC- “Stranded”- (10/10) OP
RUI JÚNIOR & O Ó QUE SOM TEM- “O Mundo Não Quer Acabar”- (8/10)
SAND- “Ultrasonic Seraphin”- (8/10) E, numa lista de krautrock
SATOR ROTAS- “Sator Rotas”- (8/10)
SCHNEIDER TM- “Moist”- (8/10)
SEVERED HEAD- “Clifford Darling Please Don’t Live in the Past” (9/10) – Não há em CD…
SHANNON WRIGHT- “**** Flightsafety”- (8/10)
SNAKEFINGER- “Chewing Hides the Sound”- (8/10)
SOFT MACHINE- “Third” (10/10) OP mas AT, jazz difícil com canções de 20m fabulosa de Robert Wyatt no meio
SOLAS- “The Words that Remain”- (9/10) E
SOUL CENTER- “Soul Center”- (8/10) E :))))))
STACKRIDGE- “The Man in the Bowler Hat”- (9/10) E, Beatles progressivos!
STEELEYE SPAN- “Below the Salt”- (9/10) E
STEELEYE SPAN- “Parcell of Rogues”- (8/10)
STEREOLAB- “Emperor Tomato Ketchup”- (8/10)
STEREOLAB- “The First of the Microbe” (8/10)
STEVE SHEHAN- “Safar” (9/10) E, mas num espírito de world/fusão
STRAWBS- “Grave New World”- (8/10) AT
SUSANA SEIVANE- “Susana Seivane c/Mário Z” (9/10) E
TALKING HEADS- “True Stories” (7/10)
TARWATER- “Animals, Suns & Atoms”- (7/10)
THE USER- “Symphony #1…”- (8/10) E
TRAFFIC- “John Barleycorn Must Die” (8/10) AT
TRAFFIC- “Mr. Fantasy”- (9/10) E
TRIO DE PATRICK BOUFFARD- “Rabaterie” (9/10) E
TRIO DE PATRICK BOUFFARD- “Revenant de Paris” (9/10) E
TUU- “Mesh”- (8/10)
TYRANNOSSAURUS REX- “Unicorn”- (8/10) AT
UI- “The Iron Apple”- (8/10)
VAN DYKE PARKS- “Song Cycle”- (9/10) E
VÁRIOS- “Portugal Deluxe, volume 2: Um Cocktail Swingante”- (8/10) TTC :)))
VÁRIOS- “Sonig”- (8/10) E
VÁRIOS- “The Beat Scene”- (8/10)
VÁRIOS- “The Psychedelic Scene”- (8/10) E
WIBUTEE- “Newborn Thing”- (7/10)
ZOMBIES- “Odessey and Oracle”- (10/10) OP

Saudações

After Dinner – “Paradise Of Replica”

BLITZ 20 FEVEREIRO 1990 >> Escaparate


AFTER DINNER
«PARADISE OF REPLICA»



Requinte. Delicadeza. Minúcia. Típicos requisitos da Alma japonesa presentes na música dos After Dinner mas que não chegam para completamente a caracterizar.
Depois de um primeiro álbum editado pela Recommended regressam muito depois do jantar com novo disco, desde já um clássico na minha imodesta opinião.
O som After Dinner é tecido em filigrana, em padrões milimétricos e nunca repetidos. Tudo fervilha e constantemente muda, segundo a segundo, num picotado de luz, traçando o desenho de uma catedral. Nunca, como aqui, a eletricidade, os instrumentos tradicionais nipónicos e os da música de câmara europeia se tinham casado e dançado num ato de puro amor.
No centro irradia a voz de boneca de cristal de Haco, menina pintada em máscara Madame Butterfly. Em volta, como pirilampos encantados, gritam cintilantes as harpas, os oboés, as flautas, os nomes impronunciáveis e os sintetizadores como se fossem tocados por fadas. E talvez sejam.
Na complexidade e imaginação dos arranjos lembram por vezes os Gentle Giant da fase inicial. Nos ambientes que sugerem aproxima-se dos jardins em que Virginia Astley se passeia, se chovesse, se fugazes relâmpagos fixassem pequenos medos na paisagem.
«Paradise of Replica» é uma sucessão infinita de imagens, ecos, espelhos, micro-sinfonias, sinos reverberados, caixas de música, vozes infantis, fantasmas, sonhos dentro de sonhos. Pingos de sangue tombando no silêncio de lagos circulares. Nuvens e vento. Paraíso de réplicas ou réplicas do Paraíso?
Saboreia-se este disco como se fosse um gelado doce para o espírito. Subtil obra-Prima. Beleza absoluta em mil segredos sussurrada.
Rec Rec, Framport. Contraverso, 1984.

Ryuichi Sakamoto | Yellow Magic Orchestra – “A Beleza Da Nova Geografia”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 13 JUNHO 1990 >> Videodiscos >> Pop

A DISCOTECA

A BELEZA DA NOVA GEOGRAFIA

Ryuichy é um dos inventores da “World Music”, versão nipónica. Ou seja, filtrada pela tecnologia mais sofisticada. Não são só baleias e Amazónia. As luzinhas e os dígitos também contam. Para ele o mundo não tem fronteiras. Como em “Beauty”, o seu disco mais recente.



Os japoneses adoram fabricar marionetas que funcionam a eletricidade. Entre as quais umas que têm a ver com música. Os europeus chamam-lhes eufemisticamente “aparelhagens”. Gira-discos, gravadores, leitores de CD – esse tipo de coisas. Reprodutores de som. A certa altura pensaram que, além de reproduzir, também podiam perfeitamente construir máquinas que produzissem som: sintetizadores, samplers, com muitas luzinhas e tecnologia digital.

Magia Amarela

Os Yellow Magic Orchestra eram um trio de jovens fanáticos da eletrónica: Yuki Takahashi, Haruomi Hosono e Ryuichi Sakamoto. Sakamoto rapidamente se revelou o mais apto, seguindo os mecanismos naturais da seleção das espécies, dando desde logo início a uma carreira a solo paralela à dos YMO.
Os Yellow Magic gravaram ao todo nove álbuns, alguns deles de edição japonesa exclusiva e por isso de mais difícil acesso. Os dois primeiros, “Yellow Magic Orchestra” (78) e “Multiplies” (79) são brilhantes exercícios de technopop temperada pela tradicional elegância nipónica. Tiveram honras de edição nacional. “Public Pressure”, “BGM”, “Solid State Survivor” e “Technodelic” são menos pop e mais experimentais, este último uma lição exemplar na arte do “sampling” e das manipulações eletrónicas. “Naughty” (83) é cantado exclusivamente em japonês. “Service” e “After Service” (ao vivo) são os derradeiros testemunhos de uma banda que nunca obteve, fora de portas, o êxito que logrou alcançar no seu país de origem.

Cidadão Do Mundo

Ryuichi Sakamoto, pelo contrário, é hoje um cidadão do mundo, com o duplo privilégio de imprimir às suas obras uma marca de inconfundível qualidade e ainda por cima conseguir vendê-las. Apreciador de Coltrane, Jobim, Cage, Beatles, Debussy e Satie, enveredou inicialmente por vias próximas dos YMO. “The 1000 Knives Of Ryuichi Sakamoto” (78) revela-nos um exímio operador de computador e um pianista apostado em transformar o fraseado satiano em pirotecnia à Rick Wakeman. “B2-Unit” (80, com alguns temas misturados pelo mestre do “dub”, Dennis Bovell) e “Left Handed Dream” (81) ostentam já os germes de posterior atitude – de mistura e síntese de géneros e culturas musicais diferentes, servidos por uma abordagem mais comercial. “Illustrated Musical Encyclopedia” (“Ongaku Zukan”, na edição original japonesa) e “Esperanto”, de meados da década, continuam por esta via, o primeiro incluindo um tema de parceria com Thomas Dolby, “Field Work”, o segundo comissionado para uma coreografia da nova-iorquina Molissa Fenley. Segundo Sakamoto, “não existe nenhuma cultura pura no mundo. Todas se misturam e influenciam mutuamente. O Bali fica ao lado de Nova Iorque e logo a seguir é Tóquio, ou talvez Hamburgo… Temos de ter esta espécie de mapa diferente na cabeça”.
“Neo Geo” é bem o manifesto musical desta nova geografia, juntando a Ásia à Europa e à América. O disco é produzido por Bill Laswell e o tema “Risky” cantado por Iggy Pop. A África é contudo o continente onde por fim desagua a música do japonês. “Beauty”, gravado o ano passado, rende-se incondicionalmente aos ritmos negros e à dança. A lista de convidados é extensa e luxuosa: Youssou N’Dour, Arto Lindsay, Robert Wyatt, Brian Wilson, Shankar ou Robbie Robertson são apenas alguns dos mais ilustres. Para descobrir como é possível juntar, no mesmo disco, o mestre das brasileiradas Arto Lindsay, o neuro-depressivo Wyatt e o ex-Beach Boy Wilson é preciso ouvi-lo.

Capitão Yonoi

Ryuichi também não descura a imagem. Ou seja, é ator. Excelente o seu capitão Yonoi, em “Merry Christmas Mr. Lawrence”, de Nagisa Oshima, ao lado de David Bowie, Tom Conti e Beat Takeshi. Talvez menos em “The Last Emperor” de Bernardo Bertolucci. Compôs música para a banda sonora de ambos e para o desenho animado “Kitten Story”. “Tokyo Melody” é um documentário centrado exclusivamente sobre a sua figura. Ele próprio realizou dois vídeos: “Adelic Penguins” e “Esperanto”.
Como homem dos sete ofícios que é, produziu e tocou nos discos “Brilliant Trees” e “Hope In A Darkened Heart”, respetivamente de David Sylvian e Virginia Astley. A colaboração com Sylvian vem, aliás, já de longa data. Desde os tempos em que contribuiu com uma canção sua para o álbum dos Japan, “Gentlemen Take Polaroids”, passando pelo já citado “Merry Christmas”, em que Sylvian agradece e retribui interpretando “Forbidden Colours”. O mundo, depois de “Beauty”, pertence a Ryuichi Sakamoto.