Arquivo da Categoria: Electrónica

Laurie Anderson, Sérgio Godinho, Bob Dylan – “Três Maneiras De Escrever Uma Canção”

cultura >> quarta-feira, 23.06.1993


Três Maneiras De Escrever Uma Canção

LAURIE ANDERSON e Sérgio Godinho asseguram a primeira parte do espectáculo de Bob Dylan a 10 de Julho no Coliseu do Porto e a 13 no Estádio do Restelo, em Lisboa. O concerto de Dylan no Coliseu do Porto contará apenas com a presença do autor do álbum “Tinta Permanente”. Uma dupla de “escritores de canções”, diferentes no estilo, juntos pela primeira vez para contarem as suas histórias de hoje e de sempre. Dylan, o mítico “cantor de protesto” dos anos 60, cuja mensagem cabou por ser “levada pelo vento” e que recentemente regressou às origens da música rural americana, no álbum “Good as I Been to You”; Sérgio Godinho, o cronista do quotidiano e dos sonhos da pequena e média burguesia portuguesas.
Mais amplo é o uso que Laurie Anderson faz das palavras. Servindo-se da electrónica como filtro transformador da voz e dos sons produzidos pelo próprio corpo, a poetisa, compositora, violinista e “performer” esculpiu os sinais e paisagens interiores das grandes metrópoles norte-americanas em álbuns como “Big Science”, “Home of the Brave”, “Strange Angels” ou a mega-antologia “United States”.

Jean-Michel Jarre – “Chronologie”

pop rock >> quarta-feira, 16.06.1993


Jean-Michel Jarre
Chronologie
CD Dreyfuss, distri. Polygram



Entre dois megaconcertos para plateias de milhões, Jean-Michel Jarre lá vai gravando, para gigantones electrónicos, as suas peças com tanto de desmesuradas como de inconsequentes. Há excepções e essas mostram que o francês, quando quer, até consegue fazer valer a sua música com o recurso a outro tipo de argumentos. É o caso de “Zoolook”, com a participação de Laurie Anderson e Adrian Belew, ou do recente “Waiting for Cousteau”, que inclui uma faixa ambiental de cinquenta e tal minutos capaz de fazer Brian Eno corar de vergonha. “Chronologie”, peça única, ambiciosa do alto das suas oito subdivisões, não pertence infelizmente a esta categoria sendo, antes, mais um daqueles pastéis em que os sintetizadores lutam uns com os outros para ver qual grita mais alto e as melodias se revolvem até à náusea na fórmula, raramente ultrapassada, de “Oxygène”. “Chronologie 4”, uma das partes dançáveis, foi repescada por uma série de grupos “rave”, entre os quais os Sunscreen, através das habituais “mixes” e “remixes” em que a única função é fazer dar ao pé com o piloto automático ligado. Deve ser difícil ser-se casado com Charlotte Rampling e ainda ter tempo para fazer música interessante. (4)

Barry Adamson – “The Negro Inside Me”

pop rock >> quarta-feira, 16.06.1993
NOVOS LANÇAMENTOS POP ROCK


Barry Adamson
The Negro Inside Me
CD Mute, distri. Edisom



Quando não tem bandas sonoras Barry Adamson inventa-as. Assim aconteceu com “Moss Side Story” e o anterior “Soul Murder”. Filme a sério teve-o o ex-Magazine em “Delusion”. Desta feita o referente imaginário cinematográfico – recuperado logo pelo aspecto gráfico da ficha técnica, elaborado à maneira de um filme – emergiu numa curta-metragem de trinta e um minutos na qual Adamson foi buscar as sonoridades “standard” das fitas, sobretudo policiais, dos anos 60 e 70, aqui postas em relevo através das deambulações solistas do órgão Hammond e de um infatigável maremoto rítmico entre “Shaft” e o acid-jazz. Dos seis apontamentos que compõem “The Negro Inside Me” destacam-se “Busted”, com os sopros a explodirem em ondas “funky” próximas de Booker T. and the MG’s e o trabalho de corte e costura das técnicas de “dub” equidistantes às do álbum novo de Holger Czukay, e o genérico final “A perfectly natural union”, no paziguamento de um diálogo a três entre um vibrafone “cool”, um contabaixo e o restolhar das vassouras nas peles dos tambores.
“The snowball effect” abre com a desbunda do Hammond, “Dead Heat” serve-se de vários lugares-comuns do “thriller” de série B, com ambulâncias e sirenes de polícia a empurrarem o tema para o lado mais óbvio e “Cold black preacher” aposta no registo mistério.
Sobra uma versão do clássico “kitsch”/erótico “je t’aime moi non plus” em que os trejeitos mecânicos de Louise Ness não fazem esquecer os genuínos orgasmos, gravados “in loco” na cama por Jane Birkin. Mas como em tempo de sida e “safe sex” não convém originar grandes excitações, tem que aceitar-se o novo arranjo, à laia de preservativo.
Um álbum interessante, de baixo orçamento, a anteceder talvez uma próxima grande-produção que dê a Barry Adamson o direito de deixar a marca do pé gravada no mítico passeio em frente ao Chinese Grauman’s Theatre. (7)