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Uma Ideia Perigosa – Roger Schank

Cheguei ao conhecimento de Roger Schank através do site Edge. Este site, que utiliza a forma de revista virtual, funciona como ponto de encontro virtual de intelectuais, sobretudo cientistas das mais variadas áreas, e propõe-se sobretudo a discutir as mais modernas inovações da nossa sociedade, o seu impacto actual e futuro. Desde a descodificação do genoma humano, o estudo das ondas cerebrais, a influência dos computadores e da internet na vida do dia-a-dia, os novos paradigmas sociais, enfim, a gama é aquela que compõe toda a nossa vivência, do planeta e do universo.

Para além das discussões, os participantes colocam sistematicamente artigos no site, reunidos numa espécie de revista virtual, o que, como é óbvio gera mais discussão, num corrupio de inteligência concentrada difícil de aceder em muitos locais.
Para além disso, é hábito do gestor do site lançar, todos os anos um desafio aos seus membros. No ano de 2007 ele foi “Diga-nos qual a ideia mais perigosa que consegue imaginar e porque é que ela é assim perigosa”. As contribuições, como sempre, foram riquíssimas e foi publicado um livro fascinante com as reflexões enviadas.
Tendo comprado e devorado esse livro, que atinge um nível excelente na maioria das suas dezenas de artigos, por defeito profissional chamou-me particular atenção à reflexão de Roger Schank que, de forma provocatória, como vim a descobrir ser seu timbre, apresenta a sua ideia mais perigosa para a área da educação. Essa reflexão levou-me a investigar mais sobre este cientista dos computadores (inteligência artificial) mas também psicólogo cognitivo, que aplica há mais de 20 anos (e mais de duas dezena de livros), estas duas áreas à educação, de modo a familiarizar-me com as suas teses para a educação no futuro. E não fiquei defraudado. Comprei entretanto quatro livros seus (ainda só li um) e não é que o tipo tem razão em quase tudo o que afirma.
Para já irei apenas publicar aqui o artigo que faz parte do livro que mencionei acima, ficando a promessa de me debruçar sobre os seus outros livros nos espaços que mantenho na net, por forma a expor as suas ideias para a educação e aprendizagem.
Ahhh! Uma coisa: apesar de “pedagogo”, este é dos que metem as mãos na massa e não daqueles que fogem, a todo o custo, da sala de aula, para depois passar o tempo a dar palpites, para não lhe chamar outra coisa, sobre os professores e o seu trabalho.
Como aperitivo podem ir lendo aqui uma entrevista sua sobre a educação e o ensino de modo a começarem a apanhar parte das ideias do homem, neste caso a necessidade de a universidade se tornar virtual.
Podem também começar a explorar o seu site pessoal, a partir do qual poderão navegar infindavelmente nestes temas da ciência dos computadores e da psicologia cognitiva aplicadas, de forma integrada, à educação.
O que é que isto tem a ver com a web 2.0?
Bem, a educação irá dar o passo no sentido que Roger Schank preconiza. As pessoas aprenderão mais através dos computadores e da internet do que na escola e, nesta, a forma mais proveitosa de aprender será sempre guiada pelos interesses próprios e pelo trabalho colaborativo: expurgar o “lixo” e “wikizar” a aprendizagem…

Acabaram os Olhares Zangados do Professor

Roger C. Schank
Roger C. Schank é psicólogo cognitivo, cientista de computadores, professor emeritus na Universidade Northwestern, chief learning officer na Universidade Trump, e a sua obra mais recente intitula-se Lessons in Learning, E-Learning, and Training: Perspectives and Guidance for the Enlightened Trainer.

Depois de uma calamidade natural, os apresentadores das notícias, nos meios de comunicação social, acabam sempre por anunciar, com excitação, que as escolas vão finalmente reabrir, pelo que, independentemente dos acontecimentos terríveis que possam ocorrer no sítio onde moram, os miúdos vão à escola. Tenho sempre pena dos pobres miúdos.
A minha ideia perigosa será rejeitada de imediato pela maioria das pessoas, sem pensar duas vezes: a escola faz mal aos miúdos. Fá-los infelizes e, como mostram os exames, não aprendem grande coisa.
Quando ouvimos as crianças falarem acerca da escola, descobrimos facilmente no que pensam enquanto estão na escola: em quem gosta delas, em quem é mau para elas, como melhorar o seu estatuto social, como conseguir que o professor as trate bem e lhes dê boas notas.
Hoje em dia, as escolas são basicamente estruturadas da mesma maneira que desde há centenas de anos. E, durante séculos, filósofos e outros têm feito notar que a escola é, na verdade, uma má ideia:

Somos encerrados em escolas e em salas de recitação durante dez ou quinze anos, e acabamos por sair com a cabeça cheia de palavras, e não sabemos nada.

RALPH WALDO EMERSON

A educação é uma coisa admirável, mas é bom lembrar, de tempos a tempos, que nada que valha a pena saber pode ser ensinado.

OSCAR WILDE

As escolas, sob a forma em que as conhecemos, deviam pura e simplesmente deixar de existir. O Governo tem de abandonar o negócio da educação, deixando de pensar que sabe o que as crianças devem aprender e de as testar constantemente para ver se elas regurgitam o que quer que seja que lhes enfiaram na cabeça.

O Governo é, e sempre tem sido, o problema da educação:
Se o Governo se decidisse a procurar obter, para todas as crianças, uma boa educação, poderia poupar-se ao trabalho de a fornecer. Poderia deixar aos pais a tarefa de obterem essa educação onde e como quisessem, e contentar-se em ajudar a pagar as propinas das crianças oriundas das classes mais pobres, assumindo todas as despesas escolares de quem não tem ninguém que as assuma por elas.

J.S. MILL

Primeiro, Deus criou os idiotas. Isso foi só para praticar. Depois, Ele criou também as autoridades escolares.

MARK TWAIN

As escolas têm de ser substituídas por lugares seguros, onde as crianças possam ir aprender a fazer as coisas que estão interessadas em aprender a fazer. Os seus interesses deviam orientar as suas aprendizagens. O papel do Governo devia ser o de criar lugares que fossem atraentes para as crianças e que as levassem a querer ir para lá.

De onde sucede que, por não termos escolhido o caminho adequado, com frequência passamos por grandes trabalhos e consumimos uma boa parte do nosso tempo a formar crianças em coisas para as quais, devido à sua constituição natural, elas são totalmente inadequadas.

MONTAIGNE

Há dois tipos de educação {…} Um deve ensinar-nos como ganhar a vida, e o outro como viver.

JOHN ADAMS

Mais de um milhão de estudantes optaram por abandonar o sistema escolar existente e estão agora em casa, a receber a educação à distância (nos EUA). O problema é que os estados regulam a educação à distância, e esta ainda se parece bastante com a escola.
Precisamos de para de produzir uma nação de estudantes cheios de stress que aprendem a ficar bem com o professor em vez de ficarem bem consigo próprios. Precisamos de produzir adultos com amor à aprendizagem, não adultos que evitam toda a aprendizagem porque esta lhes recorda os horrores da escola. Precisamos de para de pensar que todas as crianças têm de aprender as mesmas coisas. Precisamos de criar adultos que conseguem pensar por si próprios e que não se deixem convencer de que são capazes de compreender situações complexas em termos simplistas que podem ser debitados num sound byte.
Limitemo-nos a fechar as escolas. Transformemo-las todas em centros recreativos.

Agosto 28, 2008   Não há comentários

Rui Moreira – A Cenoura de Consolação

2. ::12.08.2008:: Rui Moreira – “A Cenoura de Consolação”

Não percamos a esperança. Ainda há pessoas (não professores, de sala de aula) que não perderam o discernimento e não se deixaram intoxicar pela propaganda ignóbil do governo.

Eu, confesso, embora ainda não saiba como vai ser, tenho matado a cabeça para arranjar maneira de escapar à presença na palhaçada do dia da entrega dos diplomas, sem ser grandemente penalizado na avaliação. Alguém tem alguma ideia?

Os sublinhados são meus (embora me apetecesse sublinhar o artigo todo, o que quase fiz). Então aquela do “ensino-vaselina” é para entrar, de caras, no vocabulário escolar. Vou ver se não me esqueço de a aplicar regularmente.

A Cenoura de Consolação, por Rui Moreira, Presidente da Associação Comercial do Porto, in Público 11.08.2208

A decisão de atribuir, anualmente, no Dia do Diploma, um prémio monetário aos melhores alunos do secundário, é uma daquelas notícias em que o nonsense dos governantes consegue ofuscar o do Inimigo Público.

Não, não se trata de reeditar o Quadro de Honra, em que a distinção era o justo prémio, nem a dispensa aos exames do liceu, que nos permitia entrar de férias mais cedo, no tempo da “outra senhora”. Também não se oferece uma bolsa ou viagem de estudo, nem sequer um computador, porque o Magalhães virá de borla e para todos. É dinheirinho vivo, quinhentos euros por premiado, para comprar um I-Phone ou gastar no que lhe aprouver.

É extraordinário que este ministério, que fomenta o facilitismo para melhorar notas e as estatísticas, que adopta e “ensino-vaselina” (lol) para agilizar e embaratecer a passagem do aluno pela escola, que tem fobia do elitismo, que desautoriza os professores face a pais e alunos e prefere avaliar os docentes a examinar os estudantes, que contemporiza com a indisciplina, tenha o topete de criar este prémio, que em nada contribui para a cultura de mérito, que deveria incutir às crianças, desde cedo, o sentido de responsabilidade, afirmando o estudo como um bom investimento e o conhecimento como um instrumento essencial para a realização e felicidade futuras. Não serve, sequer, como prémio de consolação para os melhores e mais esforçados, obrigados a marcar passo pela política oficial, que não permite organizar as turmas em função do mérito relativo dos alunos, nem que os professores penalizem os que não estão interessados em aprender. Será que algum bom estudante, empenhado em conseguir notas para entrar na universidade pública e gratuita, vai estudar mais por 500 euros? Alguém acredita que, por isso, um aluno mau e indisciplinado vai passar a ser bom? E se são os mais fracos que precisam de ajuda para não ficar para trás, não seria este dinheiro mais útil para viabilizar aulas adicionais de recuperação?

A ideia do dinheiro como isco é como a da cenoura que se pendura à frente do burro. Um truque de quem, com a consciência pesada por pouco fazer pelos piores, e por nada ter feito pelos melhores, os trata como se fossem asnos.

São, afinal, meras alvíssaras, que servem para que a ministra descubra, e depois exiba em dia próprio, os parcos sucessos. E, claro, esconda e omita os insucessos criados pelo jacobinismo do sistema educativo, pelo igualitarismo que nivela por baixo, pela destruição metódica da autoridade do docente pela ideia de que a avaliação punitiva é socialmente discriminatória e reprodutora de exclusão.

Tudo isto acontece a um ano das eleições. O Governo não melhorou a escola, mas vai distribuir dinheiro e computadores. O que seria demagógico, à direita, é inteligente e inovador quando vem da esquerda. Lembram-se do escândalo que foi quando, há anos, um candidato ofereceu varinhas mágicas e electrodomésticos aos eleitores? Mudam-se os tempos e as sensibilidades, e agora ninguém reclama. Mas, há coisas que nunca mudam e, por acaso, esse tal político até ganhou as eleições…

Agosto 12, 2008   Não há comentários