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Paulo Guinote – A Educação do Meu Umbigo

Já se sabe que toda a gente tem opinião sobre a educação, até porque toda a gente andou na escola…
Essa característica, legítima, leva a que todos os opinadores com exposição mediática perorem frequentemente sobre o tema, o que aliado à característico prazer português de ver alguém, com poder, a humilhar os as classes ditas privilegiadas, desde que não seja a deles, tem conduzido, nos últimos temas a que sejam expelidas barbaridades a uma velocidade superior à de um acelerador de partículas.



Há muitas maneiras de escrever sobre educação.
Os académicos, pedagogos, que dissertam sobre os problemas “realmente” candentes da área, e sua conclusão é sempre a culpabilização dos professores e a proposta de mais trabalho para estes. Mas trata-se de trabalho mirabolante, sem qualquer dose de eficácia sobre a melhoria das aprendizagens, antes conduzindo apenas a uma completa saturação, desmotivação e estupidificação da classe docente. A eles, bem como a outros, apetece-me sempre sugerir-lhes: então já que são tão sapientes e acusadores, venham dar aulas, ponham as vossas excelsas ideias em prática. É o vens!
Depois há toda uma série de indivíduos com ligação mais ou menos remota à escola, desde presidentes e vogais de comissões, professores deslocados em serviços de gabinete, técnicos de educação nas câmaras, etc. que, não usando embora a linguagem hermética e sem sentido dos anteriores, chegam precisamente às mesmas conclusões daqueles.
Aos atiradores de bitaites com opinião publicada já aludi e não vale a pena perder mais tempo com eles.
Finalmente há os professores no terreno que escrevem mas sempre numa posição de defesa, utilizando permanentemente uma linguagem de paninhos quentes, transmitindo a sensação de culpa sabe-se lá de quê, apenas para não ofender a opinião dominante.
Haverá depois alguns outros que nas opiniões que expendem deixem escapar alguns laivos de corporativismo. Admito-o.
Há alguns anos, o professor Gabriel Mithá Ribeiro rompeu com este ciclo, com esta claustrofobia opinativa, e escreveu dois livros brilhantes que colocavam muitos dedos em outras tantas feridas, numa atitude pioneira de ataque ao marasmo da denúncia de situações injustas e altamente perniciosas para a educação e m Portugal e todos os seus actores, a começar pelos alunos, e que arrastam o país para um poço sem fundo de que muito dificilmente sairá.
Paulo Guinote surge-nos agora, herdeiro desse pioneirismo, após “estágio” em blogue que virou de pantanas o modo como a circulação sobre o dia-a-dia da educação em Portugal é vivido.
O livro por si agora editado, e que reúne muitas dos seus textos anteriormente publicados no blogue, é, a todos os título, notável.
Porque o autor sabe do que fala, escreve com inusitado brilhantismo, fina ironia, chama os bois pelos nomes, é totalmente independente (o que tem muita, muita importância), não se deixando arrastar por quaisquer tipo de interesses. Ou seja, é aquilo que eu chamo um espírito-livre… e nada corporativista, sublinhe-se.
Mas mais. Quase toda a análise que faz do sistema vai direitinha aos pontos que interessam, desmascarando as pseudo-reformas que se abatem a ritmo alucinante sobre o sistema educativo e também outros interesses mais ou menos ocultos que, embora em desacordo com as mesmas, usam da táctica a sua arma mestra.
Querem mesmo saber como vai a educação em Portugal? Desejam aproveitar as fundadas sugestões dadas para a melhoria do sistema?
Então leiam o livro, que tem ainda o aliciante duma escrita escorreita, directa, incisiva e temperada com extrema boa-disposição.
Prescindo de mais elogios e deixo-vos com dois exemplos de artigos brilhantes do livro. Mas, como estes, há lá mais, muitos mais.

1. Alma de Adesivo

Já aqui referi há uns dias o fenómeno do adesivismo, assim crismado na transição da Monarquia para a República mas prática ancestral neste velho torrão nacional.

O adesivismo é uma variante do vira-casaquismo, nem sempre sendo fácil de distingui-los. Eu considero o adesivismo mais insinuante e sibilini e o vira-casaquismo mais trôpego e desajeitado.

No contexto actual o adesivismo na área da Educação ainda está incipiente, mas tem adubo e terreno fértil para se multiplicar como cogumelos inúteis em terreno bafiento.

As notícias que me vão chegando de viva voz ou por interposto testemunho teriam o seu quê de caricato caso não revelassem a propensão para práticas que podem prejudicar – e muito – o pouco que nos resta para tentar manter a Educação Pública neste país acima da linha de água.

Eu explico.

* O adesivo passou nas últimas semanas a estar muito preocupado com o sucesso e, argumentando em nome do interesse de todos, apela a que façamos o que o ME quer que se faça, «para evitar problemas». Esta preocupação é diferente da daqueles que tentam encontrar vias para moldar a tenaz ministerial e torná-la menos asfixiante. No caso do adesivo a preocupação é em conseguir mesmo que a tenaz se instale e atinja os objectivos desejados: o sucesso expresso nos resultados estatísticos.

* Para isso, o adesivo até ultrapassou o timing do ME e começou, de cenho preocupado, a lavrar umas «grelhas» de sua própria iniciativa para ir «ganhando tempo» e fez questão de divulgar esta sua iniciativa em todo o redor de si.

* Ao mesmo tempo, o adesivo mudou quase imperceptivelmente a sua forma de andar e circular pelo espaço escolar: se repararmos bem, o olhar está mais distante e foca-se menos nos seus pares, visando um pouco mais além. O adesivo passou mesmo a levantar o queixo em média um par de centímetros, corrigindo a sua postura ao andar. O adesivo-macho trocou o blusão informal pelo blazer. O adesivo-fêmea adicionou uns acessórios brilhantes aos paramentos quotidianos. Quiçá mesmo um toque mais ousado na maquilhagem.

* O adesivo fez questão de demonstrar que está a par da legislação, que leu o articulado e fixou as instruções. Declarando-se contrariado por aplicá-las, o adesivo, contudo, considera que pode acrescentar algo mais às propostas ministeriais e adianta leituras pessoais de algumas passagens e já propõe estratégias próprias para alcançar o sucesso.

* O adesivo acha que devemos definir objectivos de progresso e sucesso por turma e aluno. O adesivo acha que devemos planificar aula a aula de forma diferenciada e usar mesmo instrumentos de avaliação diferenciados em todas as turmas, visando «obter os melhores resultados», enquanto eles ainda se lembram «das coisas». É algo omisso quanto às aprendizagens. O adesivo sugere que os «colegas se envolvam» em actividades extra-curriculares, «porque é isso que agora é valorizado».

* O adesivo parece esquecer que os colegas já faziam tudo isso, valorizado ou não. O adesivo partilha experiências pedagógicas pessoais passadas que conduziram a um sucesso que todos desconhecíamos.

* O adesivo observa com ar reprovador e condescendente as vozes que ousam discordar. Aconselha que os contestatários «tenham cuidado», que «repensem a sua atitude», que «considerem que é o futuro profissional que está em risco».

* O adesivo é, no fundo, uma boa pessoa, um pináculo do bom-senso e das boas maneiras, só que facilmente impressionável às vozes de comando que soam fortes do alto. O adesivo contesta até que. O adesivo critica enquanto. O adesivo transmuta-se logo que.

* O adesivo é o camaleão do sistema educativo. Já praticou a pedagogia por objectivos quando iniciou a carreira sem pensar duas vezes; quando nasceu a ideologia das competências achou um disparate, mas dois meses depois já estava convencido. Agora que se inflecte de novo para a exigência dos resultados por sobre as práticas, acha que «realmente isto está sempre a mudar», mas muda sempre de acordo com a mudança. O adesivo é disciplinado e conhece o seu lugar na hierarquia de comando.

* O adesivo até é um bom professor, quiçá muito bom. Mas mais importante, quer ser melhor do que. Ou passar por isso.

* O adesivo é o melhor amigo do ME. Logo a seguir àquele senhor bem-falante e de barba aparada daquela associação que não sei quê.

Mas, apesar de todo esse esforço de bem-parecer, o adesivo é uma das razões porque lá de cima nos consideram «professorzecos». Porque o respeito se perde, quando nós o perdemos por nós próprios e abdicamos das nossas convicções e de lutar por elas.

No matter what.

2. Abandono e Insucesso Escolar: Como Os Resolver Em Cinco Passos

A leitura dos volumes clássicos do Sim, Senhor Ministro ou Sim, Senhor Primeiro-Ministro, assim como o visionamento da série permitem-nos perceber como algumas técnicas são imorredoiras na vida política, quando se trata de mascarar algo que incomoda, em especial factos que se possam traduzir em notícias desagradáveis ou estatísticas embaraçosas de exibir.

Este Governo não é novo nesta matéria, bastando lembrar as constantes mudanças de critérios na contabilização do desemprego ou na determinação do custo/nível de vida. O INE muda os critérios a cada triénio ou quinqénio sem que se percebam as vantagens; já o IEFP parece mudá-los semestralmente, por forma a que, a cada subida oficial do desemprego de acordo com os cálculos do INE, corresponda uma equivalente quebra no número oficial de desempregados oficialmente reconhecidos pelo IEFP.

Outra área interessante de acção é a da Justiça e da Segurança Pública. Reordenando as categorias de crimes ou atirando para fora do Código Penal certos actos, reduz-se a criminalidade. Assim como mudando o Código de Processo Penal, em matérias como o cúmulo jurídico, penas de 25 anos passam para 8. Simples e eficaz.

Na área da Educação a estratégia não é complicada e está actualmente numa fase já bem avançada embora, após uns 15 anos de prática, ainda se note alguma dificuldade em fazer desaparecer o que não interessa para debaixo do tapete ou em moldar a realidade de forma a caber nos números desejados.

Um caso é o da violência escolar. Nada como criar um Observatório destinado a recolher os dados em grelhas de classificação que quase fazem sumir as ocorrências no limbo sebastiânico do quadriculado. Porque depois é subjectiva a classificação da bolachada dada por um aluno no outro que o fez parar ao hospital, afinal pode ter sido apenas uma brincadeira que correu mal.

Mas a questão do (In)Sucesso e do Abandono é agora a mais premente para este Governo apresentar resultados e, como tal, eu presto-me a oferecer cinco ideias, nada originais, mas que podem ajudar a completar o esforço colocado pelo ME nos recentes pacotes legislativos.

Vamos lá:

1. Considerar como classificações positivas todas as que forem superiores a Zero. Afinal, dita a rigorosa e exacta Matemática que negativos, negativos, só são os números inferiores a zero. Portanto, há séculos que laboramos num erro conceptual ao considerar como insuficientes classificações que são evidentemente positivas.
2. Determinar que o Abandono Escolar não existe, pois quem não vai à escola não pode abandoná-la. O que poderá existir é um Tratamento Recreativo da Educação em Tempos Alternativos ou, para os menos conhecedores desta linguagem técnica, a TRETA. Assim poderemos ter uma grande quantidade de TRETA mas nada de Abandono.
3. Fustigar publicamente os professores que insistam em protestar contra as medidas ministeriais e em considerar que existem alunos sem condições para transitar de ano, mesmo que não saibam escrever o seu nome aos 15 anos, sem outra razão aparente que não seja o desinteresse-iô-tá-se bem, man ou a certeza do emprego garantido graças ao facto do papá ser administrador daquela empresa que presta assessoria a uma outra que trata dos subsídios europeus e está muito bem relacionada com o chefe de gabinete do senhor ministro.
4. Eliminar os quadradinhos destinados ao registo do insucesso ou abandono escolar nos impressos estatísticos oficiais. Fazer algo parecido com os formulário a preencher nas escolas, nos quais a classificação qualitativa mais baixa deve ser a de Satisfaz/Suficiente. Em termos quantitativos já vimos que acima de zero é positiva.
5. Lançar uma grande campanha de certificação das competências dos cidadãos de qualquer idade com o título de Para Lá de Novíssimas Oportunidades. Os candidatos enviam um pequeno trabalho por qualquer meio – o fax caiu em desuso, usem o mail ou sms se possível ou peçam a quem saiba para o fazer por si – com a respectiva identificação, certificação desejada (grau académico, especialidade), um slogan alusivo ao projecto em inglês técnico com 2 a 8 palavras e um envelope selado e auto-endereçado para receberem o respectivo diploma.

Modéstia à parte eu acho que estas são ideias que estão um passo ligeiramente à frente – mas só ligeiramente – das políticas do ME, pelo que nem cobrarei direitos de autor, cedendo-as em nome do bem público e da felicidade do Portugal Inovador, Certificado e Autenticado, o que dá sempre PICA, seja qual for a cor do Governo.

Junho 15, 2009   Não há comentários

Boa pergunta

Na senda do post anterior, o livro que ando a ler coloca a questão essencial:
Maria Filomena Mónica – “Vale a pena mandar os filhos à escola?”
É uma pergunta pertinente.
Sempre acreditei que:
1. “Todos gostamos de aprender mas ninguém gosta de ser ensinado”
2. “Só aprende quem quer realmente aprender”
3. Não é preciso ir à escola para aprender, podemos aprender o mesmo em casa. Esta última afirmação refere-se apenas àquilo que entendo como conhecimento. É óbvio que a escola, mas não necessariamente ela, desempenha outras funções importantes.
A autora reúne neste livro muitas das crónicas que publicou ao longo dos tempos na imprensa e que se debruçam sobre temas da educação. Com formação em História e Sociologia, Maria Filomena Mónica tem ainda um passado recheado de episódios ligados à sua vida como professora que exerceu durante períodos mais ou menos longos na universidade portuguesa.

Autor: Maria Filomena Mónica
Título: “Vale a Pena Mandar os Filhos à Escola?”
Editora: Relógio D’Água
Data de Edição: Outubro de 2008
Nº de Páginas: 146
ISBN: 978-989-641-048-3

Na esmagadora maioria dos artigos ela coloca o dedo na ferida e mostra claramente quão nu vai o rei no reino da educação em Portugal.
Embora se trate de uma personalidade polémica e por vezes emproada, no alto da sua sapiência vergando com os seus argumentos os seus opositores da “ralé”, há uma característica que ninguém lhe pode negar: a sua independência, qualidade tão rara hoje em dia nas figuras públicas.
Isto para além de uma acutilância e inteligência coadjuvada por anos de experiência no meio classificam MFM como uma das opinadoras mais incisivas do panorama da imprensa portuguesa.
Não é minha intenção analisar o livro, mas a leitura deste livro de crónicas, para quem pertence ou se interessa pelo mundo do sistema educativo português, é assaz recompensadora.
Juntando o útil “agradável”, e já que a avaliação dos professores está na ordem do dia, bem assim como o dogmatismo e a obssessão pela avaliação em geral, limito-me a transcrever (de depois comentar) um dos curtos artigos do livro (os sublinhados são meus):
“Como Avaliar os Professores”
Anreontem, a ministra da Educação declarou no Parlamento que na Universidade de Harvard os alunos avaliam os professores, dando a entender ser esta uma boa prática. além de perigosa, a afirmação é parola. Nem tudo o que se pratica naquela universidade, certamente uma das melhores do mundo, é positivo, porque o ensino dos EUA está infectado pelo «politicamente correcto».
Se há alguém que não pode nem deve avaliar os professores são os alunos: nem os das universidades, nem, muito menos, os do ensino básico ou secundário. Porque tal prática destrói o cerne da relação pedagógica, a qual se baseia no facto de o docente saber mais do que o estudante e de, por isso, ter obrigação de, no final, lhe dar uma nota. Tudo o resto são cedências às ideologias que dominam as Ciências da Educação. Há ainda um pormenor não despiciendo: Harvard é uma universidade privada e o que lá se passa apenas diz respeito ao seu conselho escolar. Ora, o que está em discussão em Portugal é um plano a ser aplicado no ensino público, ou seja, nas escolas pagas com o nosso dinheiro.
O desastroso estado do sistema educativo português tem muitas causas, mas não será através deste esquema de avaliação, provavelmente inspirado nas grelhas de avaliação para os alunos que o nefando secretário de Estado Valter Lemos apresentou no seu livro O Critério de Sucesso, que aquele melhorará. Mesmo que se pudesse instalar uma câmara de vídeo – o que espero não venha a suceder – em cada sala de aula, não haveria maneira de se determinar quem ensina bem ou mal. Os alunos sentem-no, os colegas sabem-no e os próprios terão uma noção das suas competências, mas basta ler a peça de teatro The History Boys, do premiado Alan Bennett, para se ver quão arbitrária pode ser a avaliação de um docente. Às vezes, só tarde na vida, ao recordar o professor que nos aterrorizou, nos apercebemos que foi este, e não o doce «setôr», que nos fez crescer em Sabedoria.
Que eu saiba, é para isto que as escolas servem.
Meia-Hora, 22.02.2008
E agora?
1. Qualquer avaliação dos professores é arbitrária. Isso é evidente para quem tem dois dedos de testa. Mas insiste-se em avaliar um trabalho tão específico com as regras de um cortador de peças de tecido;
2. Como a avaliação dos docentes é, por natureza, totalmente subjectiva, tenta-se objectivá-la com uma profusão de grelhas. Tal não é só inválido como prejudica apenas o acto de ensinar (o verdadeiro trabalho do professor); É como a exigência de “grelhar” tudo o que se faz nas aulas e o que os alunos (20 e tal por turma) fazem nas aulas. Tarefa impossível, mesmo que não se faça mais nada. O bom senso do avaliador no final de uma unidade ou período escolar é, sempre, repito sempre, mais adequado do que o registo exaustivo.
3. O politicamente correcto obriga todos a dizerem que querem ser avaliados. O problema é que esta avaliação não conduz a nada de útil.
Finalmente, será que a equipa governamental do Ministério da Educação pensa mesmo que as escolas servem para fazer crescer em Sabedoria? Duvido.

Dezembro 12, 2008   Não há comentários

As ferramentas informáticas mais utilizadas pelos professores

Slide show com as 100 ferramentas informáticas mais usadas pelos professores.
É interessante notar a posição do Firefox e do Internet Explorer.
Com a devida vénia para a Jane Hart que realizou a sondagem/votação.

Top 100 Tools for Learning 2008

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Novembro 18, 2008   Não há comentários